O setor de Biologia Molecular do Laboratório Central de Saúde Pública Professor Gonçalo Moniz (Lacen) já viu muita coisa. 

Só para falar em epidemias recentes, houve a dengue, a chikungunya e a zika, além da pandemia da gripe H1N1, em 2009. O próprio Lacen, com seus 105 anos de existência, já encarou muitos surtos de doenças surgidas na Bahia ou do outro lado do oceano. 
Mas algo parece ser uma unanimidade, entre os farmacêuticos, biólogos e biomédicos que são maioria na equipe da biologia molecular: nunca houve nada como a pandemia da covid-19. Desde meados de março, o time tem trabalhado 24 horas por dia para entregar resultados de testes de coronavírus para todo o estado. Só que o impacto de um trabalho mais intenso não vem sozinho. 
Nunca houve algo que fizesse com que a bióloga Luciana Reboredo, 40 anos, saísse de casa com tanto medo, todos os dias, pelos filhos de 3 e 6 anos. Nada semelhante aconteceu para que a também bióloga Vanessa Nardy, 37, tivesse que deixar o filho em outra cidade com medo de infectá-lo. Os dois não se veem há um mês. 

As duas profissionais estão entre os que fazem o chamado exame PCR, o que detecta a presença do vírus nas amostras enviadas ao laboratório. Mas, mesmo com uma rotina de cuidados permanente, a vida de todo mundo ali mudou, independente de cargo ou hierarquia. A própria diretora do Lacen, a farmacêutica bioquímica Arabela Leal, quase não vê as filhas de 12 e 16 anos como antes. 
Desde o Carnaval, no fim de fevereiro, só teve um único dia em que não esteve fisicamente na sede do laboratório - a Sexta-feira Santa.
Resultados
Cada um desses resultados passa pela farmacêutica Eline Pimentel, 51. Ela, que chegou ao laboratório há 27 anos, hoje é uma das responsáveis pela atualização dos resultados. Entre os colegas, alguns até riem do nível de preocupação de Eline. 
Aos risos, uns narram um episódio recente que sintetiza bem o caso: antes de ir embora, depois de tirar os equipamentos de proteção individual (EPIs), fez um ‘tapetinho’ usando papel toalha. A ideia era forrar o chão para evitar que seus sapatos “da vida real” tivessem contato com o chão do setor de biologia molecular. 

Eline admite ser extra cuidadosa. Explica que pesquisas recentes têm indicado que os momentos mais perigosos e com maior chance de infecção, por parte dos profissionais de saúde, é justamente na “desparamentação” - quando estão tirando os EPIs. 



Fonte: Correio

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