Um milagre inundou o barraco simplório de dona Maria de Oliveira, 66 anos, no assentamento Palmeiras, no município de Colinas do Sul.
Idosa e reclusa, ela vive de forma solitária e pacata na humilde acomodação. É uma espécie de Robson Crusoé do cerrado. Sem família. Sequer vestígios dos seus ela tinha. As lembranças que tinha dos filhos envelheceram e não mais correspondiam à realidade. Era apenas uma neblina, cada dia menos nítida e confusa.
No sábado (5) sorrisos e lágrimas invadiram os sulcos de seu sofrido rosto, ao abraçar pela primeira vez em 40 anos pessoas de sua família. O reencontro comovido foi como um presente de Deus para a anciã, já conformada com a solidão.
Desde que abandonou o marido há quatro décadas no distante Ceará, dona Maria perambulou sem rumo pelo mundo, sem ter qualquer pessoa de seu sangue para dividir suas alegrias e aflições.
Com a força de uma nordestina, no entanto, ela sobreviveu às intempéries da vida e, mesmo sem beijo de filhos e afagos de netos, restou firme e forte para consumar sua história.
O REENCONTRO
Foi um dia diferente na vida da anciã. Todos os dias ela abria a porta para o sol iluminar seus aposentos.
No sábado a luz se fez de uma forma diferente: traduzida em forma de família. A bordo de uma Van, direto de São Paulo, treze pessoas, entre elas duas filhas e um filho separados por quarenta anos de silêncio, tomaram a benção da mãe que nem sabiam que estava viva.
Como num milagre possível apenas nos filmes, dona Maria conheceu ainda duas netas e duas bisnetas, além de genros e amigos da família, da sua distante família.
Tanta vida se passou em quarenta anos que foi um encontro difícil de traduzir em palavras. Lágrimas e risos foram mais providenciais para explicar a emoção do momento para todos os envolvidos.
AJUDA AMIGA
O milagre só aconteceu por obra de pessoas amigas da família, com destaque para Cleonice Pereira da Silva, membro da comunidade "Pessoas Desaparecidas", do Facebook,
Toda a família participou das tentativas de localizar dona Maria ao longo dos anos. No entanto, a mais ansiosa era a filha Francileide.
Até a bisneta Carla, 15 anos, de tanto ver a avó buscar por informações remeteu cartas e mais cartas para programas de TV e rádio, mas sem nenhum resultado.
A neta Maria Francilane também procurou por todos os programas de TVs. "Luciano Huck, Rodrigo Faro, Ana Maria Braga, Gugu Liberato, enfim, não teve emissora de rádio e tv que não fosse procurada, pois a ansiedade de minha mãe incomodava a todos.
Ela dizia que o sonho dela era encontrar a sua mãe", disse Francilane.
Para entender melhor a história: dona Maria saiu de casa porque cansou dos desentendimentos com o marido.
Partiu para nunca mais voltar. Após estar em tantos lugares, acabou em Colinas do Sul. Sua filha Francileide mudou-se do Ceará para São Paulo.
"Eu imaginei que em São Paulo fosse mais fácil localizá-la", disse Francileide, que, em prantos, conta que saiu de casa várias vezes, de madrugada, com pacotes de cartas para deixar nas emissoras de rádio.
"Às vezes eu nem queria mais informação, tinha medo de saber que ela tinha morrido; e às vezes recomeçava tudo de novo!", diz Francileide.
Em 2008, Francileide ganhou uma aliada decisiva para sua vitória. "Foi na sua festa de aniversário.
A vizinha Cleonice Pereira da Silva faz parte de uma comunidade no Facebook de pessoas desaparecidas, e entrou na batalha e com ajuda de mais dois amigos. Depois de anos de pesquisas localizaram dona Maria em Colinas.
Fonte do Jornal Diário do Norte Irineu Rodrigues/Anderson Alcântara
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